quinta-feira, 26 de março de 2009

Ai, que sono


Aaaaaaaa…. Ai, que sono. Que sono, meu Deus. Que sono é esse que não me deixa? Que peso nos olhos. Não vejo a hora de dormir. O quê? Ainda são três da tarde? Eu tenho tanta coisa para fazer. Nem sei por onde começar. Ai, Orfeu. Agora não dá. Encolhe os braços, vai. Olha que eu tenho duas crianças para cuidar, casa para limpar, jantar para fazer, provas para corrigir… Bem que elas podiam tirar uma soneca agora na mesma hora. Ai, que bom seria. Seria? Seria nada. Eu acabaria aproveitando para arrumar isso aqui, para ajeitar aquilo lá, dobrar isto tudo aqui.
Ai que sono. Que sono. Não. Isso é psicológico. Que sono o quê. Sono é que nem frio. Não tô nem com um nem com outro. Tô bem. Imagine. Ficar com sono em plena luz do dia. Tudo bem que eu não durmo nunca à noite e acordo cedo, mas e daí? Deus não ajuda a quem cedo madruga? Então. Eu sou mais eu. Só que nem bombril. Que coisa triste, olha aí. Já estou até me comparando com bombril. Não, depressão, não. Só preciso de uma boa cama… quer dizer, de uma ducha. Isso. Um bom banho quente. Mas banho quente relaxa, né? Esquece. Vou passar um café. Ah, essa é boa! Até parece que eu aqui passo café. Desde quando esquentar a água no micro-ondas e usar café instantâneo é “passar” café? Xi. Só tem café decafeinado. Assim não dá. Então hoje ninguém vai jantar! As crianças não vão tomar banho, nem vão para cama na hora certa. Os alunos vão ficar sem notas e a casa vai ficar de cabeça para baixo. É isso?
Mãe tinha que ter estepe. Mãe devia ter direito a clone, babá ou dublê. Melhor: toda mãe devia ter o direito de se auto-desligar durante 24 horas, no mínimo, uma vez por mês. E loteria? Só quem é mãe deveria jogar na loteria e ganhar. Ai que sono. Ai que saudade da comindinha da minha mãe. Ai que saudade da minha cama. A gente cuida de todo mundo. Quem é que cuida da gente?
Quando eu me deitar, não vou dormir muito, já sei. O bebê vai acordar chorando. Toma a chupeta. Caiu. Pronto. A menina vai acordar chorando. Foi só pesadelo. Mamãe tá aqui. Pronto. O bebê vai acordar de novo. Toma, a mamadeira tá aqui. Pronto.
Ai que sono. Que sono.

quinta-feira, 19 de março de 2009

A maldade nossa de cada dia

(desenho: Margarida Santos)


Há dias em que a maldade humana consegue verdadeiramente me afetar. Por que será que eu não acho mais graça nas piadas politicamente incorretas? Por que será que o noticiário na tv me choca tanto e às vezes me leva às lágrimas? Por que será que os comentários maldosos ou despreocupados me machucam, mesmo quando não são a mim direcionados?
Será que estou ficando tão velha assim? Será que meu lado mãe não aceita mais o egoismo nosso de cada dia e rejeita completamente a banalização da agressividade gratuita em gestos, ações e palavras?
Por que será que a gente aprende tudo ao contrário? Por que nos ensinam a não levar desaforo para casa e a responder sempre à altura (não seria à “baixeza”?). Por que a gente acha que para ser forte é preciso se auto-afirmar em cima de alguém mais fraco? Por que nos ensinam desde a infância que o “mundo é dos espertos” e que ser bom é ser otário?
Quem nos deu liberdade de ferir a torto e a direito o sentimento alheio utilizando a franqueza como desculpa para tudo?
Quem nos deu o direito de proferir (pseudo)verdades, doa (muito)a quem doer, em nome da nossa liberdade de expressão? Onde é que foi parar a preocupação com a reação e as consequências que nossas palavras causam nos outros?
Fofoca, críticas nada construtivas, julgamento equivocado ou não… Cansei de tudo isso. Cansei dessa falta de respeito, dessa certeza de estar do lado da verdade, dessa maldade grosseira e camuflada. Cansei de moralismo barato e de comentários frívolos.
Por que será que a gente cresce?